A  MINHA  ALMA  GLORIFICA  O  SENHOR
POESIA DE TEMA RELIGIOSO

A minha alma glorifica o Senhor!

Poetas  Místicos

S. Francisco de Assis

 

S. Francisco de Assis
     Cântico do irmão sol

S. João da Cruz
     Cântico espiritual

Santa Teresinha
     Porque  te amo ó Maria?

     Viver de amor

Beata Alexandrina
     
Fala, fala, meu coração!
     Só por amor
     O Tudo desceu ao nada
     Hino aos sacráios
     Quadras de Natal

 

 

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CÂNTICO DO IRMÃO SOL

 

Altíssimo, omnipotente, bom Senhor,

A Ti pertencem os louvores, a glória, a honra e toda a bênção!

A Ti só, Altíssimo, se hão-de prestar

E nenhum homem é digno de pronunciar o Teu Nome.

 

Louvado sejas, ó meu Senhor, com todas as Tuas criaturas,

Especialmente meu senhor, o irmão sol

Que faz o dia e nos dá a luz.

E ele é belo e radiante com grande esplendor;

De Tí, ó Altíssimo, nos traz imagem.

 

Louvado sejas, ó meu Senhor, pela irmã lua e as estrelas;

No céu as formastes, claras e preciosas e belas.

 

Louvado sejas, ó meu Senhor, pelo irmão vento

E pelo ar e a nuvem e o sereno e todo o tempo

Pelo qual sustentas a s tuas criaturas.

 

Louvado sejas, ó meu Senhor, pela irmã água

A qual é muito útil e humilde e preciosa e casta.

 

Louvado sejas, ó meu Senhor, pelo irmão fogo

Pelo qual alumias a noite

E ele é belo e alegre e robusto e forte.

 

Louvado sejas, ó meu Senhor, por nossa irmã a mãe terra

Que nos alimenta e governa

E produz variados frutos e flores coloridas e erva.

 

Louvado sejas, ó meu Senhor, pelos que perdoam, por amor de ti,

E suportam enfermidade e tribulação.

Bem-aventurados aqueles que as sofrem em paz,

Pois que por Ti, ó Altíssimo, serão coroados.

 

Louvado sejas, ó meu Senhor, por nossa irmã a morte corporal

Da qual nenhum homem vivente pode escapar;

Ai daqueles que morrem em pecado mortal!

Bem-aventurados aqueles que se tiverem conformado com a Tua santíssima Vontade,

Porque a morte segunda lhes não fará mal.

 

Louvai e bendizei ao meu Senhor e dai-Lhe graças

E servi-O com grande humildade!

 S. João da Cruz

 

CÂNTICO ESPIRITUAL

Canções que tratam do exercício de amor entre a alma e o Esposo Cristo em que se tocam e declaram alguns pontos e efeitos da oração. Tradução do P.e Mariano Pinho.

Esposa

Onde é que tu, meu Amado,

Te escondeste deixando-me em gemido?

Fugiste como o veado,

Havendo-me ferido;

Chamando eu fui por ti: tinhas partido!

 

Pastores que passardes

Lá por ventura nos redis do morro,

Se ao meu Amado achardes,

Que venha em meu socorro.

Dizei-lhe que adoeço, peno e morro.

 

Buscando meus amores

Irei por esses montes e ribeiras,

Nem colherei as flores;

Mesmo as feras arteiras

Não temerei, nem fortes nem fronteiras.

 

Pergunta às criaturas

 

Ó bosques e espessuras

Plantados pela mão do meu Amado,

Ó prado de verduras,

De flores esmaltado,

Dizei-me se por vós terá passado?

 

Resposta das criaturas

 

Mil graças derramando

Correu por estes soutos com ternura

E enquanto o sai olhando, só com sua figura

Vestidos os deixou de formosura.

 

Esposa

 

Ah, quem poderá sarar-me?

Acaba de entregar-te sem rodeio;

Não queiras enviar-me

Mensageiro entremeio,

Que não sabe dizer-me o que eu anseio.

 

E todos quantos vagam

De Ti me vão mil graças relatando,

Mas todos mais me chagam

E mais me vai matando

Um não sei quê que ficam balbuciando.

 

Mas como perseveras,

Ó vida, não vivendo aonde deves,

Matando-te deveras

As setas que recebes

Daquilo que do meu Amado em ti concebes?

 

Porquê, tendo chagado

Meu pobre coração, não o saraste?

Depois de o ter roubado,

Porque assim o deixaste

E não tomas o roubo que roubaste?

 

Desfaz estes abrolhos,

Ninguém mais é capaz de os desfazer;

E vejam-Te meus olhos,

Que és seu lume e prazer

E para ti somente os quero ter.

 

Mostra tua presença,

Mate-me a tua vista e formosura;

Olha que esta doença

De amor, já não se cura,

Senão com a presença e co’a figura.

 

Ó fonte transparente,

Se nesses teus semblantes prateados,

Formasses de repente

Os olhos desejados

Que trago dentro da alma desenhados!...

 

Afasta-os, Amado,

Que vou de um voo!...

 

Esposo

 

Pomba, o voo doma,

Que o cervo vulnerado

Por sobre o outeiro assoma

E ao ar deste teu voo o fresco toma.

 

Esposa

 

Meu amado, as montanhas,

Os vales solitários, nemorosos,

As ínsulas estranhas,

Os rios rumorosos,

O sibilo dos ares amorosos,

 

A noite sossegada

Emparelhando com o surgir da aurora,

A música calada,

A solidão sonora,

A ceia que recreia e enamora…

 

Caçai-nos as raposas,

Que a nossa vinha já se encontra em flor,

E tantas são as rosas

Que em pinha as vamos pôr;

No céu ninguém surja, por favor.

 

Detém-te, bóreas morto,

Vem, austro, que recordas os amores,

Aspira por meu horto

E corram teus olores

E o Amado pascerá por entre as flores.

 

Ó ninfas da Judeia,

Enquanto nos rosais e dentre as flores

O âmbar nos recreia,

Ficai nos arredores

Nem toqueis na soleira com rumores.

 

Esconde-te, Qu’ridinho,

E volta a tua face p’ràs montanhas;

Nem o digas baixinho,

Mas olha p’ràs campanhas

Da que trilha por ínsulas estranhas.

 

A vós, aves ligeiras,

Leões, cervos e gamos saltadores,

Montes, vales, ribeiras,

 

Águas, ares, ardores,

E vós, medos nocturnos veladores,

 

Pelas amenas liras

E canto de sereias vos conjuro

Que cessem vossas iras

E não toqueis no muro,

Para que a Esposa durma mais seguro.

 

E já entrou a Esposa

P’ra dentro do ameno horto desejado

E a seu sabor repousa

O colo reclinado

Sobre os braços dulcíssimos do Amado.

 

Sob a árvore de Adão,

Ali comigo foste desposada;

Ali te dei a mão

E foste reparada

Onde foi tua mãe Eva violada.

 

Nosso leito florido

De covas de leões entrelaçado,

Em púrpura estendido,

De paz edificado,

De mil escudos de oiro coroado…

 

Após tuas pegadas

As donzelas discorrem no caminho;

Com toques inflamadas

E generoso vinho,

Dão-te emissões de bálsamo divino.

 

Bebi do meu Amado

Na adega interior; quando saía

Por todo aquele prado

Já nada conhecia

E o rebanho deixei que ante seguia.

 

Ali me deu seu peito

E me ensinou ciência saborosa,

E dom lhe fiz, de feito,

De mim sem deixar cousa,

Ali lhe prometi ser sua esposa.

 

De alma me consagrei

Ao seu serviço e todo o meu haver,

Já não conservo a grei

Nem tenho outro mister;

Pois já somente amar é meu viver.

 

Se pois, no eido entretida

Não mais eu já for vista nem, achada,

Direis que estou perdida,

Que andando enamorada

Perdidiça me fiz, e estou lucrada.

 

De flores e esmeraldas

Pela frescura da manhã colhidas

Faremos as grinaldas

Em teu amor floridas

E num cabelo meu entretecidas.

 

Num cabelo somente

Que em meu colo voava e o advertiste;

Notaste-o e de repente

Nele preso Te viste

E eis que num de meus olhos te feriste.

 

E quando Tu me olhavas,

Sua graça em mim teus olhos imprimiam;

Por isso me adamavas

E nisso mereciam

Meus olhos adorar o que em Ti viam.

 

Não queiras desprezar-me,

Que se de cor morena me encontraste,

Já bem podes olhar-me,

Depois que Tu me olhaste,

Pois graça e formosura em mim deixaste.

 

A cândida pombinha

À arca com o ramo regressou

E já a rola minha

Ao sócio a quem amou

Junto às ribeiras verdes encontrou.

 

Na solidão vivia,

Na solidão foi pôr ninho guarido,

Na solidão a guia

A sós o seu Querido,

Também na solidão de amor ferido.

 

Gozemo-nos, meu Amado,

E vamos contemplar-te a formosura,

No monte e no quebrado,

Donde jorra água pura;

Entremos mais p’ra dentro na espessura.

 

E logo às mais erguidas

Cavernas do rochedo

Subiremos,

Que ali estão mais escondidas;

Ali nos embrenharemos

E o mosto das romãs saborearemos.

 

Ali me mostrarias

Aquilo que minha’alma pretendia,

E logo me darias,

Ó vida e alegria,

Aquilo que me deste noutro dia.

 

A aragem que perpassa

O descante da filomela amena,

O souto e a sua graça,

Pela noite serena

Com chama que consome e não dá pena.

 

Já ninguém o alcançava

E nem Aminadab aparecia

E o cerco sossegava

E a cavalaria,

Ao avistar as águas, descia.

S. Teresinha do Menino Jesus

 

PORQUE É QUE TE AMO, Ó MARIA!

 

Quando o bom S. José ignora o milagre

Que querias esconder em tua humildade

Deixa-lo chorar junto ao Tabernáculo

Que encobre a divina beleza do Salvador!...

Oh, como amo, ó Maria, o teu eloquente silêncio!

Para mim é um concerto, doce e melodioso

Que me diz a grandeza e a omnipotência

Duma alma que só espera socorro dos Céus...

 

Mais tarde em Belém, ó José e Maria

Eu vos vejo desprezados pelos do lugar

Ninguém quer receber em sua hospedaria

Os pobres estrangeiros, o lugar é para os ricos...

O lugar é para os grandes e é num estábulo

Que a Rainha dos Céus vai dar à luz um Deus.

Ó minha Mãe querida, como te acho amável

Como te acho grande em lugar tão pobre!...

 

Quando vejo o Eterno envolto em panos

Quando do Verbo Divino ouço o débil vagido

Ó minha Mãe querida, já não invejo os anjos

Pois seu poderoso Senhor é meu Irmão bem-amado!...

Como te amo, Maria, a ti que em nossas paragens

Fizeste abrir esta Divina Flor!...

Como te amo, escutando os pastores e os magos

E guardando tudo em teu coração!...

 

Amo-te misturada com as outras mulheres

Que dirigiram os passos para o Templo santo

Amo-te ao apresentares o Salvador de nossas almas

Ao feliz velho que o aperta em seus braços

Primeiro escuto sorrindo o seu cântico

Mas em breve os seus acentos me fazem chorar.

Mergulhando no futuro um olhar profético

Simeão apresenta-te uma espada de dores.

 

Ó Rainha dos Mártires, até ao crepúsculo da vida

Esta espada dolorosa te atravessará o coração

Vais já abandonar o solo da pátria

Para evitar o furor ciumento dum  rei.

Jesus descansa em paz sob as dobras do teu véu

José vem pedir-te para partir sem detença

E a tua obediência de imediato se revela

Partes sem demora nem discussão.

 

Na terra do Egipto, me parece, ó Maria

Que o teu coração continua feliz na pobreza

Pois não é Jesus a mais bela Pátria?

Que te importa o exílio, tu possuis os Céus...

Mas em Jerusalém, uma amarga tristeza

Como um vasto oceano te vem inundar o coração

Jesus, durante três dias, esconde-se à tua ternura

Então é o exílio em todo o seu rigor!...

 

Enfim tu o vês e a alegria transporta-te

Tu dizes ao Menino que encanta os doutores:

«Ó meu Filho, porque agiste assim?

O teu pai e eu procurávamos-Te em lágrimas»

E o Menino Deus responde (oh, que profundo mistério!)

À Mãe querida que lhe estende os braços:

«Porque me procuráveis? Não sabíeis

Que tenho de me ocupar das obras de meu Pai?»

 

Ensina-me o Evangelho que crescendo em sabedoria

Jesus se submetia a José e Maria

E o coração me revela com que ternura

Ele obedece sempre a seus pais queridos.

Agora eu compreendo o mistério do Templo,

As palavras escondidas de meu amável Rei.

Mãe, o teu doce Filho quer que sejas o exemplo

Da alma que o procura na noite da fé.

 

Pois que o Rei dos Céus quis que a sua mãe

Seja mergulhada na noite, na agonia do coração;

Maria, é um grande bem sofrer na terra?

Sim, sofrer amando é a mais pura felicidade!...

Tudo o que me deu, Jesus pode retomá-lo

Diz-lhe que nunca se incomode comigo...

Ele pode esconder-se, eu fico à espera

Até ao dia sem poente que extinguirá a minha fé...

 

Eu sei que em Nazaré, Mãe cheia de graças

Vives pobremente, não desejando mais nada

Nem arroubos, nem milagres, nem êxtases

Embelezam a tua vida, ó Rainha dos Eleitos!...

O número dos pequenos é enorme na terra

Eles podem levantar para ti os olhos, sem tremer

É pela via comum, incomparável Mãe

Que queres caminhar para os guiar aos Céus.

 

Enquanto espero o Céu, ó minha Mãe querida

Quero viver contigo, seguir-te cada dia

Olhando para ti, ó Mãe, mergulho extasiada

Descobrindo em teu coração abismos de amor.

O teu olhar maternal bane todo o meu medo

E ensina-me a chorar e a rir.

Em vez de desprezar as alegrias puras e santas

Queres partilhá-las, dignas-te abençoá-las.

 

Vendo a inquietação dos esposos de Caná,

Que não podem esconder, pois não têm vinho

Na tua solicitude dize-lo ao Salvador

Esperando socorro de seu poder divino

Jesus parece primeiro recusar teu pedido

«Que nos importa, mulher, responde ele, a ti e a mim?»

Mas no fundo do coração, Ele chama-te Mãe

E faz para ti o seu primeiro milagre.

 

Um dia em que os pecadores escutam a sua doutrina

Dele que os queria receber no Céu

Eu te encontro, entre eles, Maria, na colina

Alguém diz a Jesus que o querias ver

Então o teu divino Filho, frente à multidão

Nos mostra a imensidade do seu amor.

«Quem é o meu irmão, a minha irmã e a minha mãe, diz ele,

Senão aquele faz a minha vontade?»

 

Ó Virgem Imaculada, a mais terna das mães

Não te entristeces ao escutar Jesus

Mas alegras-te porque ele nos faz entender

Que a nossa alma se torna a sua família

Tu alegras-te porque ele nos dá a sua vida,

Os tesouros infinitos da sua divindade!...

Como não te amar, ó Mãe querida

Vendo tanto amor e tanta humildade?

 

Tua amas-nos, Maria, como Jesus nos ama 

E por nós permites que ele se afaste de ti

Amar é dar tudo, dar-se a si mesmo

Quiseste prová-lo sendo o nosso apoio.

O Salvador conhecia a tua imensa ternura

Sabia os segredos de teu coração maternal.

Refúgio dos pecadores, é a ti que nos entrega

Quando deixa a Cruz para nos esperar no Céu.

 

Maria, tu me apareces no alto do Calvário 

De pé junto à Cruz, como um padre no altar

Oferecendo para apaziguar a justiça do Pai

Teu bem-amado Jesus, o doce Emanuel...

Um profeta o disse, ó Mãe desolada,

«Não há dor semelhante à tua dor!»

Ó Rainha dos Mártires, em teu exílio

Entregas por nós todo o sangue de teu coração!

 

A casa de S. João torna-se teu refúgio

O filho de Zebedeu substitui Jesus...

É o último pormenor que nos dá o Evangelho

Da Rainha dos Céus não fala mais.

Mas o seu profundo silêncio, ó minha Mãe querida

Não revela que o Verbo Eterno

Quer Ele mesmo cantar os segredos da tua vida

Para encantar os teus filhos, todos os santos do Céu?

 

Em breve ouvirei essa doce harmonia

Em breve no lindo Céu, te vou ver

Tu que vieste sorrir-me na manhã da vida

Vem sorrir-me ainda... Mãe... chegou a tarde!...

Eu não temo o brilho da tua suprema glória

Contigo sofri e quero agora

Cantar em teus joelhos, Maria, porque é que te amo

E repetir para sempre que sou tua filha!...

 

 

VIVER DE AMOR

 

Na noite de Amor, falando sem parábola

Jesus dizia: «Se alguém me quer amar

Toda a sua vida, guarde a minha Palavra

O Meu Pai e Eu viremos visitá-lo,

E do seu coração faremos morada

Viremos a ele e para sempre o amaremos!...

Cheio de paz, queremos que ele viva

No nosso Amor!»

 

Viver de Amor é guardar-Te a Ti mesmo

Ó Verbo incriado, Palavra de meu Deus,

Ah! eu te amo, Divino Jesus

É amando-te que eu atraio-o o Pai

O Espírito de Amor com seu fogo me abrasa

E o meu coração o guarda para sempre.

Ó Trindade celeste! O Prisioneira santa

Do meu Amor!...

 

Viver de Amor é viver da tua vida,

Rei glorioso, prazer dos eleitos.

Tu vives para mim, escondido na hóstia

Por ti, ó Jesus, eu quero esconder-me!

Para os amantes, a solidão convém

Uma intimidade de noite e de dia

Só o teu olhar me fará feliz

Eu vivo de Amor!...

 

Viver de Amor não é cá na terra

Montar sua tenda no alto Tabor.

É com Jesus subir o Calvário

É olhar a Cruz como a um tesouro!...

No Céu eu hei-de viver de alegria

Então toda a prova terá acabado

Agora, exilada, eu sofro e quero

Viver de Amor.

 

Viver de Amor é dar sem medida

Sem cá na terra reclamar salário

Ah! Sem hesitar, eu entrego tudo

Pois que quem ama não mede o seu dom!...

Ao Coração Divino, que é todo ternura

Eu entreguei tudo... corro agora livre

Não tenho mais nada que a minha riqueza

Viver de Amor.

 

Viver de Amor é expulsar todo o medo

Toda a lembrança das faltas passadas.

De meus pecados, não vejo sinal,

Pois num instante tudo o Amor queimou...

Chama divina, ó doce Fornalha!

No teu lar eu fixo a minha estadia

É em teu fogo que canto em liberdade:

“Eu vivo de Amor!...”

 

Viver da Amor é navegar sem parança

Semeando a paz, nos corações a alegria

Amado Piloto, a Caridade me empurra

Pois que te vejo nas almas irmãs

A Caridade, eis minha única estrela

À sua luz eu vogo sempre

Na vela vai escrita a minha divisa:

“Viver de Amor.”

 

Viver de Amor, quando Jesus descansa

É o repouso na crista das vagas

Oh! Não receies, Senhor, que te acorde

Que eu espero em paz o porto dos Céus...

Em breve a Fé rasgará seu véu

A minha Esperança é ver-te um dia

A Caridade me empurra a vela enfunada

Eu vivo de Amor!...

 

Viver de Amor, meu Mestre Divino

É suplicar-Te que espalhes teu Fogo

Na alma santa e sagrada de teu Padre

Que ele seja mais puro que um serafim dos Céus!...

Ah! glorifica tua Igreja Imortal

Os meus suspiros, ouve, ó Jesus

Eu, sua filha, imolo-me por ela

Pois vivo de Amor.

 

Viver de Amor é enxugar teu Rosto

É para os pecadoras obter o perdão

Ó Deus de Amor! Que à graça eles voltem

E que para sempre bendigam teu Nome...

Ao meu coração vem a voz do blasfemo

Para abafá-la, hei-de cantar sempre:

«O teu Nome sagrado, eu o adoro e amo

Eu vivo de Amor !...»

 

Viver de Amor é imitar Maria,

Banhando de choro e preciosos perfumes,

Os teus pés divinos, que acaricia

Com seus longos cabelos, ela os enxuga...

E depois de pé, ela parte o vaso

E perfuma agora tua doce Face.

Mas o aroma que eu espalho em teu Rosto

E o meu Amor!...

 

«Viver de Amor, que estranha loucura!»

Me diz o mundo, «Ah pára de cantar,

Guarda os teus perfumes e a tua vida,

Aprende a usá-los com melhor proveito!...»

Amar-Te, Jesus, que perda fecunda!...

Meus melhores perfumes, a ti sempre os dou,

Ao sair deste mundo, hei-de assim cantar:

«Morro de Amor!»

 

Morrer de Amor, que doce martírio!

A mim era este o que mais me convinha.

Ó Querubins! Afinai vossa lira,

Pois o meu exílio, eu o sinto a acabar!...

Chama de Amor, consome-me sem trégua

Vida dum instante, teu fardo me pesa!

Divino Jesus, realiza o meu sonho:

Morrer de Amor!...

 

Morrer de Amor, eis minha esperança

Quando eu vir partirem-se os meus laços

Minha Grande Recompensa será o Meu Deus

Nada mais me interessa então possuir.

Do seu Amor, eu quero abrasar-me

Quero então vê-lo, tê-Lo para sempre

Eis o meu Céu... aí está meu destino:

Viver de Amor!!!...

Beata Alexandrina

 

Fala, fala, meu coração!

 

Fala, fala, meu coração,

diz ao menos nestas linhas quanto desejas amar o teu Jesus!

Fala, fala, coração meu,

diz ao teu Jesus que só a Ele queres e que só nele queres descansar!

Não canses, não deixes de falar do amor!

O amor que é amor, verdadeiro e puro amor,

não pode calar-se,

não pode deixar de manifestar-se,

tem que falar e provar que ama sempre:

ama de dia e de noite, ama na dor e na alegria, ama na exaltação

e, se é amor verdadeiramente puro, ama mais ainda quando é humilhado.

Oh, amor, como tu és grande e forte!

 

 

Só por amor

 

Só por amor me deixei ferir,

Só por amor meu coração sangra,

Só por Ti, Jesus, a dor tem doçura,

Só na cruz contigo se me alegra a alma.

 

Duro é meu penar por Te saber ofendido;

Só por amor direi sempre: tem encantos o martírio.

Aqui tens, meu doce Jesus, o meu peito para abrigo.

 

Meu coração foi ingrato contra o meu Deus e Senhor;

Foi assim que Lhe paguei o Seu infinito amor.

Agora só quero amá-Lo e suavizar-Lhe a dor.

 

Dizer-Te quanto Te amo não preciso, Jesus.

Tu vês o meu coração e quanto ele ama a cruz.

Porque é que ele sofre? É só por Ti, meu Jesus.

 

A tinta que escreve em toda a terra a palavra amor

 

Meu Deus, ó meu Jesus, ser nada por teu amor é ter a felicidade na terra.

Sofrer para vos consolar e salvar as almas é a minha alegria, mesmo que não permitais que eu a sinta. (…)

Eu quero dar-vos a prova do meu amor, mas não sei como: não tenho que vos dar.

Dar-vos o meu corpo?

Já há muito que vos pertence.

Dei-vo-lo inteirinho para ser martirizado e crucificado.

Dar-vos o meu sangue?

Oh, esse já vosso é também.

Ainda que de nada mais sirva, seja ele a tinta que escreve em toda a terra a palavra AMOR, amor para e só para Jesus.

Dar-vos a minha vida?

Já não é minha, vossa é também.

Vós morrestes por mim, para me salvar e eu morro por vosso amor (…)

Jesus, Jesus, que mais Vos hei-de dar?

Quero que a minha vontade seja vossa para que a vossa seja sempre a minha.

 

Tarde Vos amei!

 

Meu doce Jesus, tão tarde Vos conheci e tarde, ainda muito mais tarde Vos amei!

Fazei que agora viva só para Vós e para o vosso amor.

 

 

O Tudo desceu ao nada

 

O Tudo desceu ao nada,

a Grandeza desceu à pobreza,

o Amor desceu à frieza, à miséria, à indignidade.

Que grande amor é Jesus!

Desceste do mais alto ao mais baixo.

Ó Jesus, dai-me fogo, dai-me amor;

amor que me queime, amor que me mate.

Eu quero viver e morrer de amor.

Jesus, seja o Vosso divino amor a minha vida!

Seja ele e ele só a  minha morte!

Jesus, quero amar-Vos; amar-Vos até à loucura, amar-Vos até morrer de amor.

Jesus, quero ser a predilecta, a louca do Vosso amor...

Perdei-me na imensidade do Vosso amor.

Jesus, eu me consagro toda e para sempre a Vós.

Consagrai-me Vós toda e para sempre à querida Mãezinha.

Amai-a por mim, falai-Lhe de mim.

Dizei-Lhe tudo, mas tudo por mim...

Mãezinha, vinde, vinde já; dai graças a Jesus por mim.

Amai-O por mim.

Dizei-Lhe tudo, mas tudo, por mim...

Ó Mãezinha, eu me consagro toda e para sempre a Vós...

Consagrai-me toda e para sempre a Jesus... Dizei-Lhe que eu O amo... Dizei-Lhe que sou dele.

Dizei-Lhe que só nele quero pensar. Que só dele quero falar, que só para Ele quero viver. Dizei-lhe que o ajudais Vós à minha crucifixão, para que nada fique no meu corpo e na minha alma para crucificar.

Mãezinha, agradecei a Jesus, por mim, todos os benefícios que tenho recebido até este momento e os que confio que hei-de receber.

Agradecei-Lhe todas tribulações e angústias, alegrias e tristezas, lágrimas e sorrisos, tudo o que me alegra e faz sofrer.

Dizei-Lhe que recebo tudo como bem-vindo das suas divinas mãos, como a prova do seu maior amor para comigo.

Dai-Lhe um grande obrigado, um contínuo obrigado, um eterno obrigado!

Ó Mãezinha, agradecei-Lhe tudo quanto recebi e hei-de receber no tempo e, depois, na eternidade.

O Céu, o Céu, Mãezinha! Que grande amor! Oh quanto devo a Jesus!

(Pensamentos Soltos, pág. 69, 4-9-1944)

 

 

 Actos de Amor

(Hino aos Sacrários)

 

Ó meu Jesus, eu quero que cada dor que sentir, cada palpitação do meu coração, cada vez que respirar, cada se­gundo das horas que passar, sejam

actos de amor para os vossos Sacrários.

Eu quero que cada movimento dos meus pés, das mi­nhas mãos, dos meus lábios, da minha língua, cada vez que abrir os meus olhos ou os fechar, cada lágrima, cada sorriso, cada alegria, cada tristeza, cada atribulação, cada distracção, contrariedades ou desgostos, sejam

actos de amor para os vossos Sacrários.

Eu quero que cada letra das orações que reze, ou oiça rezar, cada palavra que pronuncie ou oiça pronunciar, que leia ou oiça ler, que escreva ou veja escrever, que conte ou oiça contar, sejam

actos de amor para os vossos Sacrários.

Eu quero que cada beijinho que Vos der nas vossas santas imagens ou da vossa e minha querida Mãezinha, nos vossos santos ou santas, sejam

actos de amor para os vossos Sacrários.

Ó Jesus, eu quero que cada gotinha de chuva que cai do céu para a terra, toda a água que o mundo encerra, ofe­recida às gotas, todas as areias do mar e tudo o que o mar contém, sejam

actos de amor para os vossos Sacrários.

Eu Vos ofereço as folhas das árvores, todos os frutos que elas possam ter, as florzinhas oferecidas pétala por pé­tala, todos os grãozinhos de sementes e cereais que possa haver no mundo, e tudo o que contêm os jardins, campos, prados e montes, ofereço tudo como

actos de amor para os vossos Sacrários.

Ó Jesus, eu Vos ofereço as penas das avezinhas, o gor­jeio das mesmas, os pêlos e as vozes de todos os animais, como

actos de amor para os vossos Sacrários.

Ó Jesus, eu Vos ofereço o dia e a noite, o calor e o frio, o vento, a neve, a lua, o luar, o sol, a escuridão, as estrelas do firmamento, o meu dormir, o meu sonhar, como

actos de amor para os vossos Sacrários.

Ó Jesus, eu Vos ofereço tudo o que o mundo encerra, todas as grande­zas, riquezas e tesouros do mundo, tudo quanto se passar em mim, tudo quanto tenho costume de oferecer-Vos, tudo quanto se possa imaginar, como

actos de amor para os vossos Sacrários.

Ó Jesus, aceitai o Céu, a terra, o mar, tudo, tudo quanto neles se encerra, como se esse tudo fosse meu e de tudo pudesse dispor e oferecer-Vos como

actos de amor para os vossos Sacrários.

 

 

ACTOS DE AMOR

QUADRAS DE NATAL

 

Canta alegre, minha alma,
Vai nascer o Deus-Menino!
Foi só para dar-te o Céu
Que Ele se fez pequenino.

Meu coração bateu asas,
Ao presépio foi pousar:
Dar-se todo a Jesus,
Para O servir e amar.

O fogo que me devora,
Herdei-o do meu Jesus.
Principiou no presépio
E foi levá-Lo à Cruz.

Tenho fome de Jesus,
Vou ao presépio a correr,
Comer das suas virtudes:
Só elas me fazem viver

 

     

 

 

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