À
Paixão de Cristo Nosso Senhor
(dialogismo)
Porque a tamanhas penas Se oferece,
Por o pecado alheio e erro insano,
O Trino Deus? Porque o sujeito humano
Não pode co castigo que merece?
Quem padecerá as penas que padece?
Quem sofrerá desonra, morte e dano?
Quem será, se não for o Soberano
Que reina, e servos manda, e obedece?
Foi a força do homem tão pequena,
Que não pôde suster tanta aspereza,
Pois não susteve a Lei que Deus ordena.
Mas sofre-a aquela imensa Fortaleza
Por amor puro; que a mortal fraqueza
Foi pera o erro, e não já pera a pena.
* * *
- Que estila a Arvore sacra? — Um licor santo.
- Pera quem? — Pera o género é humano.
- Que faz dele? — Um remédio soberano.
- Pera quê? — Pera a culpa e triste pranto.
- E que obra? — Reduzir Lusbel a espanto.
- Porquê? — Porque cum pomo fez grão dano.
- Que foi? — A morte deu com um engano.
- Tanto pôde? — Sem falta pôde tanto.
- Quem sobe a ela? — Quem do Céu desceu.
- A que desce? — A subir a criatura.
- Que quis da Terra? — Só levá-la ao Céu.
- É escada para ir lá? — E a mais segura.
- Quem o obrigou? — De amor só se venceu.
- Quem amava este Feitor? — Sua feitura. |